segunda-feira, 16 de março de 2009

[8] Terminando a viagem pelo nordestão

(postei também o texto 7 mais abaixo: Recife, Olinda e Porto de Galinhas em Pernambuco)

É isso. Uma viagem mais finda. Mais uma vez passei por várias experiências, conheci diversas pessoas, estive em muitos lugares, pratiquei idiomas, comi comidas diferentes...

Em uma viagem tão "curta", de três semanas, para um forasteiro é difícil perceber as diferenças culturais entre um estado e outro no nordeste, mas sei que há.

De comum posso citar parte da alimentação: peixes feitos de várias formas, carangueijo, camarão, lagosta, queijo coalho, tapioca, carne de sol, vários sucos de diferentes frutas; e ainda o menu ao vivo (te mostram o peixe para escolher), comer com os pés na água, os vários passeios de buggy, os mergulhos para ver peixes, as belíssimas praias, o diferente sotaque para o "t" e o "d", a hospitalidade, o calor humano, a também quente temperatura da água do mar, os banhos com água gelada (uma das partes que mas me fez "sofrer" na viagem)...

Resolvi fazer uma relação dos lugares em que já estive (Brasil, EUA, Europa, América do Sul e até África). Espero ter lembrado de 95% delas:

Brasil:
Brasília, Recife, Olinda, Porto de Galinhas, Caicó, João Pessoa, Pipa, Natal, Fortaleza, Canoa Quebrada, Jericoacoara, Manaus, Porto Seguro, Salvador, Chapada Diamantina, Maceió, Foz do Iguaçú, Curitiba, Porto Alegre, Vitória, Brotas, São Paulo, Campinas, Piracicaba, Sorocaba, Lorena, Praia Grande, Guarujá, Ubatuba, Rio de Janeiro, Niterói, Friburgo, Mangaratiba, Búzios, Conservatória, Petrópolis, Teresópolis, Ilha Grande, Paraty, Trindade, Itatiaia,Visconde de Mauá, Maringá, Maromba, Belo Horizonte, Ouro Preto, Mariana, Pouso Alegre, Varginha, Alfenas, Poços de Caldas, Itajubá, Poço Fundo, Paraguaçu, Carvalhópolis, São Tomé das Letras, Machado.

América do Sul:
La Paz, Copacabana (Bolívia), Punto, Cuzco, Machipicchu, Águas Calientes, Arequipa, Ica, Pisco, Lima (Peru), Buenos Aires, El Calafate, El Chalten (Argentina), Montevidéu, Colônia del Sacramento, Punta del Este, Rivera (Uruguai), Santiago, Pucon, Puerto Varas, Frutillar, Puerto Madero, Puerto Natales, Torres del Paine (Chile)

EUA:
Salt Lake City, Park City, Las Vegas, Los Angeles

Europa:
Madri, Toledo, Segóvia, Córdoba, Sevilha, Cádiz, Algeciras, Santiago da Compostela, Bilbao, San Sebastian, Barcelona (Espanha), Lisboa, Sintra, Porto (Portugal), Paris (França), Amsterdã (Holanda), Copenhague (Dinamarca), Linkoping, Estocolmo (Suécia), Oslo, Bergen (Noruega), Berlim (Alemanha), Viena (Áustria) Budapeste (Hungria), Cracóvia, Awschivitz (Polônia), Roma, Pisa, Florença, Veneza, Milão (Itália), Gryon (Suiça).

África
Tanger (Marrocos)

Depois de mais essa viagem teria todos os motivos para dizer que cansei de viajar. Mas isso não é verdade, talvez o que tenha cansado é de viajar - e viver - sozinho.

Em um momento de divagação pensei em algumas fases de nossas vidas de trás pra frente: a nossa morte, as nossas doenças, o nosso envelhecimento, os nossos netos, a nossa independência financeira, os nossos filhos, o nosso casamento, os nossos namoros, o nosso emprego, a nossa formatura, a nossa adolescência, a nossa infância, o nosso nascimento. Sei bem em que fase estou agora, espero sobreviver a esse intenso 2009.

Finalmente: o que escrevo é uma viagem, as fotos são uma viagem, o que eu sinto aonde estou é, ainda, outra viagem. A união dos três e de todo o resto diz que viagem maior é essa, aonde ela termina e aonde ela começa.

Até a próxima meus caríssimos amigos !

P.S. Fotos: http://www.flickr.com/photos/acpadilha/sets/72157615501317773/

quarta-feira, 11 de março de 2009

[7] Recife, Olinda e Porto de Galinhas em Pernambuco

Na quinta-feira Norma e Cláudia, que mais pareciam uma dupla de comediantes, me deixaram na rodoviária às 19:29! Meu ônibus partia para Recife às 19:30, mas felizmente ainda foi possível apanhá-lo. Emoções.

Cheguei na capital pernambucana por volta das 8:30 da manhã de sexta, ainda teria que pegar um outro ônibus municipal para chegar até a praia de Boa Viagem, onde me hospedaria. Após obter algumas informações gerais com a garota que estava sentada ao meu lado fui seguindo em meu mapa da cidade o caminho que o ônibus percorria para saber aonde teria que descer, no que obtive êxito. Caminhei apenas duas quadras para chegar ao albergue. Como teria apenas a sexta em Recife (sábado faria um passeio para Porto de Galinhas e domingo às 7:00 da manhã retornaria ao Rio), imediatamente acertei um city tour para a tarde.

Até dar a hora do micro-ônibus me buscar (13:30 hs ) caminhei por Boa Viagem, inclusive na praia, comprei lentes de contato e almocei. O curioso desta praia são as inúmeras placas espalhadas avisando aos banhistas sobre o perigo da presença de muitos tubarões. Já houve vários casos de mordidas de tubarão na área. É sugerido que os banhistas entrem no máximo até a água bater na cintura e o surf é proibido.

O city tour da tarde abrangeria não só Recife, mas também Olinda. Um dos pontos altos era a própria guia Olga, uma gorda bonachona, falante, engraçada e com ótima presença de espírito. Segundo ela o centro de Recife é dividido em três regiões: as chamadas ilhas de Boa Vista, Santo Antônio e de Recife. Pela primeira só passamos e não paramos, já em Santo Antônio conhecemos próximo à praça da República o Palácio Campo das Princesas, o Palácio da Justiça e o teatro Santa Isabel. Mais adiante ficam a estação ferroviária e a Casa da Cultura, uma antiga prisão. Todas essas construções fariam qualquer arquiteto ficar boquiaberto.

Seguimos então para terceira e última parte em Recife, a ilha de mesmo nome da cidade. Fomos direto ao chamado Marco Zero. Não demorou nem um minuto para que eu percebesse que estivera ali três semanas antes, porém um pouco "mamado", à noite e em meio ao carnaval. A sensação de estar ali de dia foi completamente diferente da anterior, estranha por sinal. Caminhamos pelas ruas do centro onde pudemos conhecer vários prédios com fachadas centenárias, algumas herança dos portugueses outras dos holandeses.

Os holandeses invadiram Pernambuco em 1630 em busca do valioso açúcar e permaneceram por 24 anos até serem expulsos. Foi tempo suficiente para que marcassem sua presença. Uma das heranças são as cerca de 45 pontes sobre os rios que cruzam o centro.

Do centro de Recife seguimos para Olinda. Se a primeira cidade tem 1.700.000 habitantes, Olinda tem 367.000 espalhados por seus 32 bairros. Porém o que chama atenção mesmo na cidade são os 10 km2 do centro histórico que é Patrimônio Cultural da Unesco (assim como Ouro Preto, Paraty, São Luis...)

A primeira parada em Olinda foi na catedral da Sé. Mais bonita que a própria igreja era a vista panorâmica que se tinha de seu pátio. Desse que é um dos pontos mais altos da região era possível ver não só Olinda mas também Recife, ao longe. Passeamos por ruelas, vimos dançarinos de frevo, escutamos repentistas e comemos uma excelente e barata tapioca de queijo coalho. Abro um parentêses para finalmente dar o braço a torcer para alguns amigos nordestinos: assado, frito, enfim, derretido, talvez o queijo coalho seja mesmo melhor que o queijo Minas. Mas só assim, viu? hahaha. Depois disso, quando já anoitecia, conhecemos o belíssimo Mosteiro de São Bento. Por essas ruas mais uma vez me veio a sensação de "Deja vu", tinha passado nos mesmíssimos locais no carnaval, mas dessa vez as intenções eram bem diferentes. Retornamos, então a Recife, ouvindo belas histórias narradas por nossa guia. Durante as visitas pude conversar principalmente com um casal de mineiros de Belo Horizonte e um engenheiro da Embraer que houvera estudado na mesma universidade que eu.

No sábado partimos logo de manhãzinha para Porto de Galinhas. Casualmente sentei ao lado de Devendra Malkan, um tanzanês (África) cujos pais eram indianos e que morava em Michigan nos EUA. Fomos conversando em todo o trajeto e servi de intérprete entre ele e a nossa guia simpática e calma - ao contrário da Olga - Conceição. Achei Devendra bastante ousado, uma vez que vinha viajando no Brasil por um mês sabendo apenas uma palavra em português: obrigado.

Conceição disse que Porto de Galinhas tinha esse nome porque escravos traziam escondidas galinhas d'Angola nos navios que vinham da África, pois eram muito apreciadas pelos senhores de engenho. A senha quando chegavam ao porto era "tem galinha nova no porto". Hoje Pernambuco é o terceiro maior produtor de cana no Brasil, atrás de São Paulo e Alagoas, mas no auge da produção havia 140 Engenhos no estado, muitos hoje transformados em usinas.

Passamos perto do Porto de Suape, região industrial, há 45 minutos de Recife, aonde está sendo construída uma nova refinaria da Petrobras, o que já está gerando muito emprego na região.

Chegamos então em Porto de Galinhas, nosso ponto de referência era um restaurante de frente para a praia, o Peixe na Telha. Pedi o tal Peixe Geraldo Magalhães - Campeão Brasil Sabor 2008. Provei e aprovei!

Em Porto de Galinhas o principal programa além de banhar-se no mar e saborear a boa comida é, quando a maré está baixa, entrar nas piscinas naturais que se formam próximo à costa e observar as centenas de peixes que ficam presos. Finalmente usei meu snorkel e máscara que carregara durante toda a viagem.

Retornamos a Recife e dessa vez fui conversando com o grande paulistano Rafael. Combinamos de curtir a night recifense na minha despedida do nordeste.

Depois de nos encontrarmos na praia Boa Viagem em uma determinada rua, fomos a uns barzinhos bem badalados e muito bem frequentados no lado oposto à orla. Não me lembro bem o nome (dois deles acho que eram o Buteco e o Carolina Café). Depois de muitas, muitas, muitas cervejas fomos à boate Jardins, também nas imediações. Foi o encerramento perfeito da viagem, saímos às 4:00 am, peguei um táxi, passei no albegue para pegar a mochila, deixamos o Rafael no hotel dele e segui moribumdo para o aeroporto pois meu vôo sairia às 7:00 am!

O vôo de retorno seria tranquilíssimo não fosse o fato de ao meu lado viajar no colo de sua mãe um pestinha birrento. Fazer o quê. Cheguei no Rio pouco antes das 10:00 da manhã de domingo e às 11:00 hs estava de volta ao lar. O regresso também é uma das grandes fases de toda viagem, curioso é que às vezes leva-se um tempinho para se reacostumar com a própria casa.


P.S. Vejam como o camarão está presente na culinária nordestina, anúncio em um outdoor: "Motel Praia Norte - Camarão alho e óleo grátis"

P.S. 2 Talvez Minas tenha as melhores cachaças, mas aonde se bebe mais pinga é no nordeste
P.S. 3 Dados sobre a população. João Pessoa: 693.000; Natal: 798.000; Recife 1,7 milhão; Fortaleza: 2,4 milhões
P.S. 4 Se ainda não ficou claro: Natal me decepcionou um pouco, Recife até que me surpreendeu, precisaria de mais dias em Fortaleza para julgá-la, João Pessoa um dia ainda será descoberta. Infelizmente dizem que Natal era como João Pessoa é hoje, tomara que a cidade progrida sem perder seu encanto.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

[6] Fortaleza e Canoa Quebrada no Ceará

É possível imaginar pessoas que abandonam tudo pra ficar em uma cidade distante de sua origem, nos confins do Brasil ?

Pois tanto em Jericoacoara quanto em Canoa Quebrada (praia quase na fronteira do Ceará com o Rio Grande do Norte), encontrei umas figuras assim. Sejam eles com curso superior ou não, de alguma parte do Brasil ou da Europa, ricos ou pobres, todos pensam ter encontrado nessa parte do Brasil um sentido para as suas vidas. Talvez seja difícil compreender, mas essa não é minha intenção, apenas constato um fato.

Bem, de Jericoacoara viajei para Fortaleza. Nessa cidade estou me hospedando na casa da madastra e do pai de um grande amigo dos tempos de universidade, o cearense Sérgio. A Norma tem feito com que quase me sinta em casa e, além de me mostrar a cidade, tem me facilitado uma exploração pela culinária local. Mais uma vez estão muito presentes a tapioca, o carangueijo, o camarão, a peixada...

Quem gentilmente me pegou na rodoviária foi a mãe de meu amigo, Cláudia, que no mesmo dia já me mostrou a famosa avenida Beira Mar, a praia de Iracema, o centro cultural Dragão do Mar, a ponte metálica ( ou dos ingleses) além de outros pontos. Também neste dia a Norma me levou até o Beach Park e me deixou, na parte da tarde, na praia do Futuro, na excelente barraca Vira Verão. À noite saímos eu Norma e Cláudia... Em um só dia já passei pelos principais cartões postais da cidade, mas a impressão é que Fortaleza mereceria semanas de visitação.

Na quarta meu destino seria uma pequena expedição à famosa Canoa Quebrada, distante 166 km ao sul. O passeio começaria às 7:30 e quando acordei às 6:30 chovia como há muito não se via. No entanto, 2 horas e meia depois, já em Canoa Quebrada, o sol brilhava intenso, e mais uma vez eu olhava para os céu e agradecia essa sorte que tem me intrigado um pouco.

Canoa Quebrada é uma pequena vila pertencente ao município de Aracati. Há uma cidade pequena e desce-se or uma falésia para chegar á bonita praia. Em 1970 a praia ficou famosa por ser habitat dos hyppies. Nessa época surgiu o símbolo da cidade, esculpido nas falésias: uma lua entrelaçada com uma estrela. Dizem que o símbolo foi feito em homenagem a um casal de hyppies que se separaram, na tentativa de reaproximá-los. O nome Canoa Quebrada remonta os anos de 1600 quando uma embarcação portuguesa encalhou na região. Os índios reaproveitaram toda a madeira do barco e se referiam ao local como a praia da Canoa Quebrada.

Por recomendação do Sérgio fiquei na barraca do Paulinho em Canoa. Conversei com ele um pouco e ele me contou algumas histórias de meu amigo, uma das quais a de que o Sérgio, depois de alguns dias no local e sem dinheiro, trocara um tênis Nike por hospedagem e comida.

Creio que um dia só não é suficiente para se captar a magia de Canoa Quebrada, mas a bela praia com as falésias na lateral já compensou a visita. Bom mesmo seria ficar mais um dia e curtir a noite de Canoa que dizem ser muito boa.

Retornamos à Fortaleza. Na própria quarta, ainda sairia para comer carangueijo com a Norma e sua filha Raíssa. Enquanto eu comia um, elas comiam dois cada uma. Um dia eu pego prática. Dessa vez aprendi com a Norma um modo de sugar o interior cascudo das patinhas do carnagueijo e retirar a carne branca de maneira integral.

Na quinta pela manhã estava novamente chovendo, optei por dormir um pouco mais, já que teria uma longa viagem até Recife a noite. Também aproveitei para resolver algumas coisinhas via internet, inclusive localizar um local pra ficar na capital pernambucana. Na parte da tarde de quinta, em meu útimo dia em Fortaleza, ainda viria a conhecer alguns pontos e saboraear mais uma vez a culinária cearense.

Uma vez mais a hospitalidade de amigos, como a Norma, Cláudia, Henrique e Raíssa, viria a fazer diferença na minha viagem. Essa é uma experiência que já tive principalmente em São Paulo, Belo Horizonte, Maceió, Vitória, no Uruguai, em João Pessoa, Fortaleza... e que dá um toque especial em qualquer viagem. Sempre fico um pouco apreensivo, com receio de estar incomodando ao alterar a rotina dos anfitriões, mas esta é mais uma oportunidade de repetir a frase que está desenhada em giz branco no meu balão de metal preto que tenho pendurado em minha sala no Rio de Janeiro: "Quem não arrisca nada, arrisca tudo". Ainda me restam três dias de férias para arriscar mais um pouco...

[5] Jericoacoara no Ceará

Estava deitado na areia sob um sol escaldante no meio do nada olhando para o céu azul aonde as poucas nuvens brancas e baixas se moviam ritmadamente. Ao mesmo tempo que ouvia o som das ondas quebrarem na praia, sentia o cheiro do sargaço do mar e o vento tocar em minha pele. Não planejava o futuro nem relembrava o passado, apenas tentava conter meus pensamentos no presente (Ana Maria dissera que isso era meditação), quando escutei som do buggy que aumentava paulatinamente. Era meu "bugueiro" Alexandre que vinha me apanhar juntamente com o futuro delegado Bruno (ainda em curso de formação) e a sua namorada, a bióloga Paulicéia. Era meu segundo dia em Jericoacoara, e o passeio que fazíamos juntos era o de Tatajuba.

Bem, creio não preciso mais dizer que realmente alterei meu roteiro e depois de uma viagem que durou das 21:00 hs de quinta até às 17:00 hs de sexta, com uma conexão rodoviária em Fortaleza, cheguei a essa cidade no norte cearense. Foram mais de 800 km e o último trecho teve que ser feito de jardineira, espécie de caminhão adaptado ao transporte humano, pois o ônibus não conseguiria passar por um terreno tão acidentado. Formava-se assim a fronteira entre a civilização e esse belo povoado.

Se em Veneza as ruas são de água, em Jericoacoara as ruas são todas de areia. Como é bom constatar que alguns lugares resistem ao "progresso" e mantém suas características originais. Não tardei a perceber que essa seria a cidade em que mais realmente eu me sentiria de férias: o clima da cidade, a aconchegante pousada com ótimo custo-benefício, os bons restaurantes, a bela natureza... logo decidi que não ficaria duas noites, mas três. Esse seria o local perfeito para não se fazer nada.

O Paulo, nativo que ajudava na pousada, foi logo dizendo que por ali as coisas aconteciam um pouco mais devagar, o que aliás eu já tinha percebido quando estava chegando, uma vez que a jardineira quando passara por outros pequenos povoados, depois do aceno de um morador, tinha que esperar o passageiro lentamente sair de sua casa, ao invés deste estar esperando no ponto.

Na própria sexta da minha chegada não fiz muito além de comer em um restaurante indicado pelo Paulo (Sabor da Terra) e dar uma saída de madrugada - o nativo dissera que a noite em Jeri, para confirmar a lentidão do lugar, começava às 2:00 da madruga. Tenho que dizer que nesse dia a noite não começou, talvez devido a esses tempo pós-carnaval, quando as pessoas estão retornando, com a fonte de dinheiro seca, à rotina de suas vidas. O fato é que a cidade tinha bem menos turistas que o normal, segundo relatos, o que para mim não era de todo mal.

No sábado decidi que seria o dia das caminhadas. Primeiro, pela manhã, até a Pedra Furada, um dos cartões postais do local. Foi uma bela caminhada em que, por vezes, como a maré baixa permitia, também era entrecortada por entradas no mar. A fiz juntamente com um vendedor ambulante e um casal. O que era para durar 40 minutos demorou mais de hora e meia devido às muitas paradas. Chegamos à Pedra Furada e mais uma vez deu para perceber, para nossa alegria, a escassez de turistas. Isso nos permitiu explorar bem o local: uma imensa rocha com um grande furo no meio. Em certas épocas do ano é possível ver o pôr-do-sol pelo furo.

Voltei por um caminho diferente, já que a maré subira e não seria possível mais retornar por onde viemos. Dessa vez fui sozinho. Como a volta era por uma altitude mais alta, e em sentido contrário, novas paisagens se descortinavam a minha fente. Além das rochas, do belo mar com águas claras via-se cactos, jegues, vacas magras...

O sol era de meio-dia e pensei que me faria bem em um banho e um descanso em meio ao ar condicionado na pousada. Mais tarde saí para comer peixe frito, o prato que mais repetiria em toda a viagem, e partir para nova caminhada para o lado esquerdo de Jeri, passando pelas dunas.

Essa caminhada também serviu para confirmar o porquê da fama do local. Subi por dunas de areia que, com o mar , proporcionava curiosas sensações, e fui seguindo. Se para trás iam ficando a vila de Jeri as dunas, à frente surgia à esquerda muito verde cortado por riozinhos. Segui bastante e depois retornei. Foram longas horas em meio à natureza extasiante.

Retomo agora o relato de meu tereiro dia em Jericoacoara que deu ensejo ao primeiro parágrafo deste texto. Acertei o passeio de buggy na associação dos buggueriros sem saber se realmente seria possível fazê-lo e sem saber quem seriam meus companheiros de passeio. Mas essa é das imprevisibilidades que sempre são bem-vindas.

Às 8:45 do domingo tive certeza que o passeio aconteceria e às 9:00 o pessoal passou na pousada para iniciarmos o roteiro. Na primeira parada, cuja narração já iniciei, decidi não fazer o trecho de barco para conhecer o Cavalo Marinho. No dia anterior o sociólogo professor da UFMG Gustavo dissera-me que não valia pena. Abro um parenteses para dizer que o Gustavo também disse que o carnaval de Parintins no interior da selva amazonica é dez vezes melhor que o do Rio!

A próxima parada seria no próprio povoado de Tatajuba. A dona Delmira nos contou várias histórias, como a de que a Tatajuba antiga já não existia mais. A cidade fora coberta por dunas móveis e tivera que ser reconstruída.

A terceira parada foi nas dunas do Funil, dunas estas que ficavam em um elevado, local perfeito para apreciar o local ao longo de 360 graus. Alguns chegam a comparar o local com os lençóis maranhenses.

A quarta e última parada seria a lagoa de Tatajuba. O encanto desta parada ficaria por conta da deliciosa refeição que saboreamos e pelas redinhas que ficam estendidas sobre a água, aonde pode-se deitar e curtir o local. O cardápio é literalmente ao vivo, são mostrados os peixes e dito o preço para que seja feita a escolha. Nesse ponto foi possível conversar bastante e conhecer melhor meus colegas de passeio. Bruno me contara sobre a ansiedade de, em breve, abandonar o conforto de casa em Natal para assumir o posto de delegado em alguma cidade do Ceará. Não tivera carnaval, ou melhor, passara a festa mais popular do Brasil em uma delegacia constatando as piores mazelas que uma festa dessa dimensão, em uma capital como Fortaleza, pode proporcionar. Estava convencido de que não tinha perfil para aquilo. Comentei que pior que aquilo talvez fossem os pronto-socorros dos hospitais. Retornamos e nos despedimos. Já estou acostumado com essas amizades súbitas que se fazem e se desfazem. Tudo muito curioso.

Sobre Tatajuba ainda vale ressaltar que esse é o nome de uma planta cujas folhas possibilitam fazer um chá que, dizem, uma vez tomado causa efeitos piores que os da cocaína. Restam poucas árvores na redondeza, talvez tnham sido cortadas por isso...

Na segunda-feira tomei o café-da-manhã, peguei minha camiseta "No shirt - No shoes" e, cansado de ficar pra lá e pra cá, fui curtir a praia mais próxima. É bom dizer que usar tênis nas ruas de areia de Jeri (No shoes!) seria um sacrilégio. Passei a manhã toda na praia e retornei á pousada para retirar minhas coisas do quarto, uma vez que a diária venceria às 12:00 hs. (apesar de meu ônibus só partir às 22:30).

Na parte da tarde almocei carne de sol com queijo coalho. O nordeste, simplificando um pouco, é a terra da carne de sol, dos peixes, do camarão, do carangueijo, das frutas diferenciadas, da castanha, do queijo coalho, dos derivado da macaxeira (mandioca, aipim - segundo Luiz Câmara Cacudo um dos poucos alimentos genuinamente nacionais), e ainda de comer com os pés na água, do cardápio ao vivo...

A idéia era de que a segunda-feira ralmente fosse um dia tranquilo, como se fosse uma despedida serena de uma das melhores partes da viagem. Jericoacoara é um desses raros lugares que deve-se conhecer. E voltar.

[4] Natal no RN

Cheguei em Natal na tarde de terça-feira 03-março. Fui direto pro albergue em Ponta Negra que, diga-se de passagem, merece um parágrafo à parte.

De longe o Lua Cheia é o albergue mais interessante em que já me hospedei, incluindo os do exterior; e olha que não foram poucos. A originalidade deste é que ele é em formato de castelo medieval. A idéia mirabolante foi de um paulista que em janeiro de 1995 o inaugurou depois de dois anos da obra ficar em construção. O clima é um tanto quanto mórbido devido à decoração composta por bruxas, vampiros... e à iluminação, ou melhor a falta dela; principalmente a noite todos ficamos em uma espécie de penumbra. A passagem do exterior para o interior é idêntica àquelas que se vê em filmes e desenhos, com cordas ladeando uma pontezinha sobre a água. O nome dos quartos são bastante originais, o meu por exemplo se chamava Masmorra. Além de servir de hospedagem a pessoas do mundo todo, o albergue também abriga muitas festas, sendo que a mais tradicional é a de Hallowen. Junto ao castelo também há um pub chamado Taverna, onde a diversão come solta madrugada adentro.

Depois de deixar minhas coisas no Lua Cheia resolvi dar uma volta por Ponta Negra, bairro nobre que possui uma praia que atrai muitos banhistas. De volta ao albergue conheci no meu quarto Cássio, um jovem engenheiro metalúrgico de Belo Horizonte que morara um ano na Alemanha e que trabalha na siderúrgica CSA. Por meio dele ainda conheci o carioca Alysson, os paulistas Willian e Daniel, a curitibana Patrícia, a brasiliense Fabíola e a rio grande nortense Julieta. Todos fomos beber e comer algo e curtimos a noite na Taverna, onde uma banda muito boa fez um showzinho.

A quarta-feira reservei para fazer o passeio que inclui as dunas de Genipabu. É um passeio de buggy que ocorre entre as 9:00 hs e as 16:00 hs. Além do Dino da Silva Sauro, que é como nosso motorista se apresentou, fomos eu, a policial federal Fabíola e os dinamarqueses Marc e Iasak. Já sabia que quando o bug acelera nas dunas é perguntado se queremos com emoção ou sem emoção (quando o buggy quase tomba....) mas já ao sair da cidade quase batemos por duas vezes.

Alguns números: Dino disse que há cerca de 500 buggys credenciados em Natal e cerca de 800 no estado. Disse também que um Buggy custa R$48.000 mas o dele com 20 anos valia R$18.000. Ainda resta dizer que esse passeio custuma custar entre R$60 e R$80 por pessoa.

Durante o passeio, com trilha sonora excelente, escolhida pelo Dino, passamos por inúmeros locais, tiramos várias fotos, paramos em dois locais diferente para comer e banhar-nos em rio ou praia. Em duas das paradas pode-se fazer aerobunda, esqui-bunda ou kamikaze 1 e 2. Fiz estes últimos. A uma inclinação de cerca de 45 gruas se desliza por uma lona de uns 50 metros, estendida e fixada sobre a areia. Uma mangueira jorra água sobre a lona para deixá-la lisa e assim pode-se escorregar até o rio. É tudo muito rápido, questão de segundos, mas a velocidade é grande e o nível de adrenalina no sangue sobe. No kamikaze 2 deita-se vom a barriga voltada pra baixo e se desce de cabeça, o que torna a aventura ainda mais emocionante. Disse a eles que já está na hora de construir o kamikaze 3... Mas o melhor do passeio mesmo é quando o buggy adentra às dunas, principalmente quando o condutor acelera forte sobre a areia fofa. A noite participamos de um excelente jantar de integração no albergue, fomos a um forrozinho e voltamos para descansar pro dia seguinte.

Estava planejando para a quinta fazer um passeio pelo "caribe brasileiro", Maracajáu, onde se diz que é excelente para a prática do mergulho de superfície, mas disseram que a maré alta não ia deixar. Dessa forma optei por conhecer o centro e outros locais de Natal. Conheci a estranha catedral, o memorial de Câmara Cascudo, que não faz jus à importância deste, o teatro Alberto Maranhão e andei muito pelos arredores desses locais. Depois decidi conhecer o maior cajueiro do mundo que fica em Pirangi. Peguei uma vanzinha que depois de uns 20 minutos me deixou do lado do cajueiro.
A árvore cobre uma área de aproximadamente 7.500 m2, com um perímetro de aproximadamente 500 m. O cajueiro foi plantado em 1888. O crescimento da árvore é explicado pela conjunção de duas anomalias genéticas. Primeiro, em vez de crescer para cima, os galhos da árvore crescem para os lados; com o tempo, por causa do próprio peso, os galhos tendem a se curvar para baixo, até alcançar o solo. Observa-se, então, a segunda anomalia: ao tocar o solo, os galhos começam a criar raízes, e daí passam a crescer novamente, como se fossem troncos de uma outra árvore. A repetição desse processo causa a impressão de que existem vários cajueiros, mas na realidade trata-se de uma única árvore.

Voltei para o albergue para tomar um banho, pegar a mochila e partir rumo a Jericoacoara. Mudei os planos completamente. Ao longo da viagem obtive vários sinais tanto de amigos quanto de viajantes sobre Jericoacoara e então decidi visitá-la. Viajarei madrugada adentro e farei uma pequena parada em Fortaleza na sexta de manhã para trocar de ônibus. Depois de cerca de três dias naquela cidade volto para conhecer Fortaleza, Canoa Quebrada e descer rumo à Recife, que é de onde retorno ao Rio.

Não posso dizer que Natal me decepcionou, mas também não posso dizer que me impressionou. Ficar hospedado no albergue-castelo Lua Cheia e fazer o passeio sobre as dunas tornaram a passagem por essa cidade especial, mas não sei, esperava um pouco mais. Não sei se influenciou o fato de achar que Natal fosse uma cidade pacata e, no entanto, ter escutado ao menos duas histórias de violência envolvendo turistas no período que fiquei lá. Também achei Natal urbanisticamente inferior a João Pessoa. Do que não posso reclamar é do tempo: dias de sol intenso!

[3] Pipa no Rio Grande do Norte

Cheguei na rodoviária no sábado "em cima da bucha". O Ônibus saía 17:30 hs e exatamente nesse horário o Bruno me deixou lá. Seria uma viagem tranquila não fosse o tombamento de um caminhão que carregava comida. Isso causou um certo transtorno, uma vez que ficamos parados na estrada por cerca de meia hora.

Resolvido o problema seguimos. Teria que parar em Goianinha e pegar uma van até Pipa. Os taxistas ofereciam o serviço por R$30,00, mas a van custava R$3,00.

Chegando em Pipa, percebi que uma colombiana que também estava na van estava um pouco perdida. Perguntei se ela também procuraria o albergue da juventude e ela respondeu que sim. Acabou que decidimos dividir um quarto em uma pousada com vista pro mar. Pipa pós-carnaval estava atípica, o que possibilitou que o preço não fosse exorbitante.

Eu e Ana Maria, que estuda artes plásticas na Colômbia, saímos à noite para comer (Pizzaria) e beber (Tribus, OZ) e acordamos não tão cedo no dia seguinte para o "desayuno". Após tomar o excelente café-da-manhã da pousada saímos em direção às praias.

Há que se dizer que o tempo estava muito instável em Pipa. Logo que descemos para a primeira praia, a praia do Centro, já começou a chover, no entanto como parou logo resolvemos seguir. Chegamos então até a Praia do Curral, também chamada praia dos golfinhos devido a constante presença destes; mas confesso que não vi nenhum. Uma diferença básica que percebi nessa praia foi a presença de falésias, enormes paredões de terra vermelha que se erguiam até 300 metros a nossa esquerda, enquanto a praia estava a nossa direita. Mais uma vez a chuva apertou e ficamos completamente enxarcados.

O próximo passo seria atravessar uma faixa de pedras até a praia de Madero. Não foi fácil, a chuva caía forte, temia que minha câmera, carteira e outras coisas molhassem, mas não tinha jeito, já estávamos longe e o melhor era seguir.

Depois de quase meia hora escolhendo cuidadosamente em quais pedras lisas pisar em meio à água salgada, conseguimos chegar á praia de Madero. Sentamos em uma tendinha e fizemos dali nosso porto seguro. A chuva deu uma trégua, e então resolvemos entrar no mar. Doce ilusão, ela voltou com tudo. Mas já passa da hora de dizer que no nordeste a temperatura da água do mar é deliciosa, quase 30 graus! então não tinha problema. Ficamos quase uma hora disputando as ondas com os surfistas.

Depois de um tempo saímos e, enquanto nossas roupas secavam no sol que reaparecera com tudo, comemos um peixe com salada, arroz e bebemos algo, tudo em meio a instrutivas conversas.

Dessa praia subimos por longas escadas pela falésia e tomamos uma van até uma lagoa que existia próximo. Encontramos um bar muito aconchegante com uma vista muito boa e mais uma vez resolvemos parar. Passamos ali quase duas horas, creio. Como a noite chegara e havia um problema com a luz elétrica no local, o dono acendeu uma vela na nossa mesa e a atmosfera mudou completamente.

Voltamos então para Pipa de van novamamente, tomamos banho e resolvemos comprar ingredientes para fazer, sob os olhares de um italiano de Bologna, um macarrão à bolognesa. Não sei se realmente ficou bom ou se era nossa enorme fome. Não nos animamos muito em sair à noite.

Na segunda de manhã tomamos café na pousada regado a muita conversa. Ela com o espanhol Joaquim e o brasileiro Roberto, eu com o Italiano bolognês Ricardo e sua namorada. As conversas passavam por trabalho, política, economia, educação...

Combinamos de ir à praia do Amor (uma das mais bonitas) juntos. Curiosamente um senhor de 50 anos (espanhol), um homem de 40 (o brasileiro) um ao redor de 30 (eu), e a colombiana Ana Maria de 20 ! Caminhamos a partir da praia do centro dessa vez para o sentido direito, oposto ao dia anterior. Passamos por uns quiosques e depois tudo começou a ficar deserto. Quando surgiram umas pedras para atravessar, o Roberto resolveu voltar, os demais seguiram em frente. Há que se dizer que nunca pratiquei tanto espanhol na minha vida quanto nesses dois dias!

A paisagem aos arredores da Praia dos Amores era deslumbrante. Enquanto Ana Maria e o espanhol resolveram entrar na água, resolvi criar umas fotos diferentes. Escrevi com letras garrafaias na areia molhada a palavra LIBERDADE e tirei uma foto com aquele fundo feito de pedras e uma praia cor verde/azul. Fiz o mesmo, mudando o ângulo, com as palavras FRATERNIDADE, IGUALDADE, e IDENTIDADE. Vamos ver o resultado...

O melhor ainda não tinha aparecido, subimos umas escadas pelas falésias e ao chegar lá em cima ficamos boquiabertos. Mais uma vez via tanto à direita quanto à esquerda paisagens magníficas. Mais bonitas que as de João Pessoa ? Não creio, mas quase tão bonitas quanto. Começamos então a caminhar de volta por cima e depois de uns 300 metros descemos novamente rumo á praia. Reforço para aqueles que me lêem e que farão esse percurso, que não se esqueçam que pra subir nas falésias e ter essas belas vistas, há que se passar a Praia do Amor.

Encontramos o Roberto em um quiosque e retornamos à Pipa. Ana Maria partiria em duas horas para Natal tomar um vôo rumo à Medelin na Colômbia, acabava nesse dia sua viagem de dois meses.

Fomos almoçar os quatro juntos e nos despedimos. Eu ficaria ainda mais uma noite.

Depois de 10 dias sempre com alguém chegara o primeiro período que passaria sozinho. Aproveitei para ordenar os pensamentos, pensar um pouco sobre a vida e começar a escrever os textos dessa viagem. Como seria minha última noite também aproveitei para comer em um restaurante legalzinho (chevere, como diria a colombiana). Fiquei um pouco nos bares e foi curioso observar que jamais a proporção de nativos era tão grande perante a de turistas. Até escutei um falar que estava aliviado que o verão tinha passado e que tudo estava finalmente voltando ao normal.

Dormi, acordei na terça e fui direto tomar café da manhã. Sentei na mesa de Marc, um holandês de uns 20 anos que trabalhava em um restaurante na Holanda e que viajaria pelo Brasil por um mês. Era a segunda viagem dele, a primeira tinha sido no ano anterior para a Indonésia. Disse que estava gostando muito mais do Brasil. Ele estava me dando dicas sobre Natal quando chegou para o café o espanhol joaquim de 50 anos.

Lá pelas tantas estava contando minha visita a Aushiwitz (campo de concentração de judeus na Polônia) quando o espanhol expressou seu ponto de vista. Disse que essas atrocidades da humanidade deveriam ser esquecidas, que essa seria a única forma de perdoar. Disse que jamais visitaria um lugar desses. Comecei a entendê-lo melhor quando ele disse que tinha feito algo de muito mal no passado e que aplicava essa teoria a si mesmo. Só seria possível perdoá-lo com o esquecimento. Fiquei curioso, mas não perguntei o que era por discrição. Não concordo muito com esse ponto de vista, mas há que se registrá-lo. Eu penso que devemos aprender com os erros e para isso temos que relembrá-los. Uma vez disse isso para um amigo ao que ele me retrucou: o melhor mesmo, o mais inteligente, é apender com os erros dos outros...

Durante nossa conversa chegou Rose, que cuida da pousada e comecei a discutir com ela o preço do quarto. Aconteceu que ao mesmo tempo falava português com Rose, também falava espanhol com Joaquim e inglês com Mark, algo que só é mesmo possível em um albergue. Meu sonho atual é aprender italiano na Itália e francês na França! Nem que seja lá pelos 50 anos.

Pipa é isso, uma pequena cidade praiana, com uma rua principal de pedra entre aconchegantes restaurantes e pousadas. Dizem que lembra um pouco Búzios. Talvez.

Sigo agora para Natal.

[2] João Pessoa na Paraíba

João Pessoa é uma cidade que aparenta proporcionar aos seus cidadãos uma ótima qualidade de vida. A densidade populacional parece ser baixa, há muito espaço disponível ainda. As ruas são largas e a cidade lembra mais as européias e norte-americanas que as outras capitais do Brasil ou da da América do Sul. O prefeito é muito querido e parece entender muito bem de gestão pública. Removeu camelôs e criou mercados de compras aconchegantes, implantou o orçamento participativo, iluminou bem a cidade, recuperou fachadas de prédios antigos, dentre inúmeras outras coisas que poderia citar. A cidade também pega embalo no crescimento nordestino, superior à média nacional e a economia esbanja pujança.

Em João Pessoa eu ficaria hospedado na casa do Bruno, que como já disse, trabalha comigo na Petrobras.

Na própria quarta-feira que regressamos de Caicó-RN ainda foi possível fazer um "city night tour" com ele e a namorada dele pelo centro de João Pessoa aonde pude tirar belas fotos noturnas. Foi possível perceber a suntuosidade de várias construções e igrejas, que o poder público se esforça em preservar. Também foi posível comer as tradicionais empadinhas Barnabé. O que me chamou mais a atenção não foi nem tanto as empadinhas em si, que são deliciosas, mas a visão empreendedora de seu dono; tudo no local é derivado de criatividade e inovação.

Mas era a quinta-feira que me reservava os melhores momentos. Nosso palnejamento era alugar um carro e ir para as praias do litoral sul, chegando mesmo a sair do município de João Pessoa.

Paramos em várias praias as quais nem me recordo bem o nome. A primeira era uma cheia de rochedos que formavam belas paisagens. A seguinte foi a Praia Bela. Bela não era a praia mas o lugar. Embaixo de palhoças (guarda-sol de vegetação seca) e dentro de um riozinho ficavam mesinhas e cadeiras onde podíamos nos sentar, comer e beber, tudo isso com os pés dentro d'água.

A cerveja estava geladíssima e finalmente aprendi a comer carangueijo, devidamente instruído pelo Bruno e pela Helô. Logicamente não podia acompanhá-los, mas até que evoluí. O carangueijo vem inteiro mergulhado em um caldo delicioso. Com ele vem uma tábua de madeira e um martelinho. Vai se destrinchando partes das pernas do caranguejo e para tirar-se a pouca carne que fica sob o casco duro tem-se que dar marteladinhas e quebrá-lo. Dá trabalho mas o resultado compensa. Se não bastasse isso ainda pedimos um deixe saborosíssimo que recomendo e cujo nome jamais quero me esquecer: Cioba. Quando a água do rio já alcançava nossas coxas resolvemos seguir para outras praias.

A parada seguinte foi e um mirante cênico a uns 300 metros de altura em relação ao nível do mar. De um lado via-se a praia de Tabatinga e do outro a de Coqueirinho. Eu não sei dizer qual era a melhor visão, mas tenho que dizer que foi um dos lugares mais bonitos que já vi não só no Brasil , mas no mundo. Nem tento descrever a cena e creio que fotos não capturam a magia e a beleza do local. O único alerta é: vá um dia, antes de morrer !

Depois seguimos para Tambaba. Desde onde paramos na trilha, à esquerda era possível chegar a lugares que lembram Fernando de Noronha, que dizem ser o lugar mais bonito do Brasil. À direita fica a praia de nudismo; pudemos ver algumas garotas tirando fotos só com uma folha de jornal à frente, na entrada da praia, para parecerem estar nuas.

Ainda no litoral sul fomos à região dos canyons e seguimos de volta passando por dois mirantes e pelo ponto mais oriental da América.

Para fechar o dia com chave de ouro ainda fomos ver o pôr-do-sol na praia de Jacaré, próximo a Cabedelo. Talvez seria como um pôr-do-sol qualquer não fosse pelo fato de que um homem com uma paramenta impecável toca em um saxofone o bolero de ravel. Ele flui sobre as águas em um barco com um remador que faz um percurso milimetricamente calculado. A experiência é interessantíssima.

Eu disse fechar o dia, porque a noite ainda fomos em um restaurante tradicionalíssimo em JP, o Mangai. Comi Gororoba de charque (espécie de purê de mandioca com queijo e carne - muito bom), carne seca com nata, queijo coalho e bebemos suco de cajá.

Na sexta-feira dormimos pela manhã e a tarde fizemos o mesmo percurso que na quarta a noite, porém desta vez de dia. Conheci o teatro antigo, igrejas, praças, e outros sítios históricos.

No sábado tínhamos planejado um passeio pela manhã, mas o dia amanheceu chuvoso. Porém a tarde o tempo abriu e foi possível ir até um quiosque na praia do Bessa. Encontramos um primo e outro amigo do Bruno e dá-lhe mais carangueijo. Às 17:30 hs me desgarrei de meu amigo rumo à Pipa no RN para começar uma terceira fase da viagem.

João Pessoa me surpreendeu bastante, e assim como Vitória no ES creio que um dia fará parte do circuito tradicional do turismo brasileiro, mas tenho que dizer que a hospitalidade e orientação de uma pessoa conhecida fez toda a diferença nessa parte da viagem!