domingo, 15 de fevereiro de 2009

[3] Pipa no Rio Grande do Norte

Cheguei na rodoviária no sábado "em cima da bucha". O Ônibus saía 17:30 hs e exatamente nesse horário o Bruno me deixou lá. Seria uma viagem tranquila não fosse o tombamento de um caminhão que carregava comida. Isso causou um certo transtorno, uma vez que ficamos parados na estrada por cerca de meia hora.

Resolvido o problema seguimos. Teria que parar em Goianinha e pegar uma van até Pipa. Os taxistas ofereciam o serviço por R$30,00, mas a van custava R$3,00.

Chegando em Pipa, percebi que uma colombiana que também estava na van estava um pouco perdida. Perguntei se ela também procuraria o albergue da juventude e ela respondeu que sim. Acabou que decidimos dividir um quarto em uma pousada com vista pro mar. Pipa pós-carnaval estava atípica, o que possibilitou que o preço não fosse exorbitante.

Eu e Ana Maria, que estuda artes plásticas na Colômbia, saímos à noite para comer (Pizzaria) e beber (Tribus, OZ) e acordamos não tão cedo no dia seguinte para o "desayuno". Após tomar o excelente café-da-manhã da pousada saímos em direção às praias.

Há que se dizer que o tempo estava muito instável em Pipa. Logo que descemos para a primeira praia, a praia do Centro, já começou a chover, no entanto como parou logo resolvemos seguir. Chegamos então até a Praia do Curral, também chamada praia dos golfinhos devido a constante presença destes; mas confesso que não vi nenhum. Uma diferença básica que percebi nessa praia foi a presença de falésias, enormes paredões de terra vermelha que se erguiam até 300 metros a nossa esquerda, enquanto a praia estava a nossa direita. Mais uma vez a chuva apertou e ficamos completamente enxarcados.

O próximo passo seria atravessar uma faixa de pedras até a praia de Madero. Não foi fácil, a chuva caía forte, temia que minha câmera, carteira e outras coisas molhassem, mas não tinha jeito, já estávamos longe e o melhor era seguir.

Depois de quase meia hora escolhendo cuidadosamente em quais pedras lisas pisar em meio à água salgada, conseguimos chegar á praia de Madero. Sentamos em uma tendinha e fizemos dali nosso porto seguro. A chuva deu uma trégua, e então resolvemos entrar no mar. Doce ilusão, ela voltou com tudo. Mas já passa da hora de dizer que no nordeste a temperatura da água do mar é deliciosa, quase 30 graus! então não tinha problema. Ficamos quase uma hora disputando as ondas com os surfistas.

Depois de um tempo saímos e, enquanto nossas roupas secavam no sol que reaparecera com tudo, comemos um peixe com salada, arroz e bebemos algo, tudo em meio a instrutivas conversas.

Dessa praia subimos por longas escadas pela falésia e tomamos uma van até uma lagoa que existia próximo. Encontramos um bar muito aconchegante com uma vista muito boa e mais uma vez resolvemos parar. Passamos ali quase duas horas, creio. Como a noite chegara e havia um problema com a luz elétrica no local, o dono acendeu uma vela na nossa mesa e a atmosfera mudou completamente.

Voltamos então para Pipa de van novamamente, tomamos banho e resolvemos comprar ingredientes para fazer, sob os olhares de um italiano de Bologna, um macarrão à bolognesa. Não sei se realmente ficou bom ou se era nossa enorme fome. Não nos animamos muito em sair à noite.

Na segunda de manhã tomamos café na pousada regado a muita conversa. Ela com o espanhol Joaquim e o brasileiro Roberto, eu com o Italiano bolognês Ricardo e sua namorada. As conversas passavam por trabalho, política, economia, educação...

Combinamos de ir à praia do Amor (uma das mais bonitas) juntos. Curiosamente um senhor de 50 anos (espanhol), um homem de 40 (o brasileiro) um ao redor de 30 (eu), e a colombiana Ana Maria de 20 ! Caminhamos a partir da praia do centro dessa vez para o sentido direito, oposto ao dia anterior. Passamos por uns quiosques e depois tudo começou a ficar deserto. Quando surgiram umas pedras para atravessar, o Roberto resolveu voltar, os demais seguiram em frente. Há que se dizer que nunca pratiquei tanto espanhol na minha vida quanto nesses dois dias!

A paisagem aos arredores da Praia dos Amores era deslumbrante. Enquanto Ana Maria e o espanhol resolveram entrar na água, resolvi criar umas fotos diferentes. Escrevi com letras garrafaias na areia molhada a palavra LIBERDADE e tirei uma foto com aquele fundo feito de pedras e uma praia cor verde/azul. Fiz o mesmo, mudando o ângulo, com as palavras FRATERNIDADE, IGUALDADE, e IDENTIDADE. Vamos ver o resultado...

O melhor ainda não tinha aparecido, subimos umas escadas pelas falésias e ao chegar lá em cima ficamos boquiabertos. Mais uma vez via tanto à direita quanto à esquerda paisagens magníficas. Mais bonitas que as de João Pessoa ? Não creio, mas quase tão bonitas quanto. Começamos então a caminhar de volta por cima e depois de uns 300 metros descemos novamente rumo á praia. Reforço para aqueles que me lêem e que farão esse percurso, que não se esqueçam que pra subir nas falésias e ter essas belas vistas, há que se passar a Praia do Amor.

Encontramos o Roberto em um quiosque e retornamos à Pipa. Ana Maria partiria em duas horas para Natal tomar um vôo rumo à Medelin na Colômbia, acabava nesse dia sua viagem de dois meses.

Fomos almoçar os quatro juntos e nos despedimos. Eu ficaria ainda mais uma noite.

Depois de 10 dias sempre com alguém chegara o primeiro período que passaria sozinho. Aproveitei para ordenar os pensamentos, pensar um pouco sobre a vida e começar a escrever os textos dessa viagem. Como seria minha última noite também aproveitei para comer em um restaurante legalzinho (chevere, como diria a colombiana). Fiquei um pouco nos bares e foi curioso observar que jamais a proporção de nativos era tão grande perante a de turistas. Até escutei um falar que estava aliviado que o verão tinha passado e que tudo estava finalmente voltando ao normal.

Dormi, acordei na terça e fui direto tomar café da manhã. Sentei na mesa de Marc, um holandês de uns 20 anos que trabalhava em um restaurante na Holanda e que viajaria pelo Brasil por um mês. Era a segunda viagem dele, a primeira tinha sido no ano anterior para a Indonésia. Disse que estava gostando muito mais do Brasil. Ele estava me dando dicas sobre Natal quando chegou para o café o espanhol joaquim de 50 anos.

Lá pelas tantas estava contando minha visita a Aushiwitz (campo de concentração de judeus na Polônia) quando o espanhol expressou seu ponto de vista. Disse que essas atrocidades da humanidade deveriam ser esquecidas, que essa seria a única forma de perdoar. Disse que jamais visitaria um lugar desses. Comecei a entendê-lo melhor quando ele disse que tinha feito algo de muito mal no passado e que aplicava essa teoria a si mesmo. Só seria possível perdoá-lo com o esquecimento. Fiquei curioso, mas não perguntei o que era por discrição. Não concordo muito com esse ponto de vista, mas há que se registrá-lo. Eu penso que devemos aprender com os erros e para isso temos que relembrá-los. Uma vez disse isso para um amigo ao que ele me retrucou: o melhor mesmo, o mais inteligente, é apender com os erros dos outros...

Durante nossa conversa chegou Rose, que cuida da pousada e comecei a discutir com ela o preço do quarto. Aconteceu que ao mesmo tempo falava português com Rose, também falava espanhol com Joaquim e inglês com Mark, algo que só é mesmo possível em um albergue. Meu sonho atual é aprender italiano na Itália e francês na França! Nem que seja lá pelos 50 anos.

Pipa é isso, uma pequena cidade praiana, com uma rua principal de pedra entre aconchegantes restaurantes e pousadas. Dizem que lembra um pouco Búzios. Talvez.

Sigo agora para Natal.

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